Imagens surpreendentes feitas no último dia 2 mostram que a pesca artesanal de tainhas em Laguna, ainda mantém viva a tradição da colaboração entre pescadores e botos. O registro foi feito no Molhe da Barra, área conhecida por ser um dos principais pontos de observação desse tipo de interação.
A gravação, feita por Sérgio Honorato, foi compartilhada nas redes sociais nesta semana. Nas imagens, é possível ver um boto nadando próximo aos pescadores e sinalizando o momento ideal para o lançamento das tarrafas. De acordo com o autor do vídeo, a pescaria naquele dia foi bastante produtiva.
Segundo a prefeitura de Laguna, o local do registro é popularmente chamado de “prainha dos botos” justamente pela facilidade de observar, a poucos metros da margem, o comportamento colaborativo entre humanos e animais.
A pesca colaborativa segue um padrão que se repete há gerações. O boto utiliza a ecolocalização para identificar o cardume de tainhas e conduzi-lo até os pescadores. Quando o peixe está no ponto certo, o animal sinaliza com movimentos específicos – como a retirada da cabeça da água ou saltos – e os pescadores lançam as redes. Parte do cardume é capturada, enquanto o restante se dispersa, permitindo que o boto também se alimente.
Coordenador do projeto na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o professor Caetano Sordi afirma que a prática é um exemplo de relação simbiótica. “Há uma cooperação direta entre os botos e os pescadores. Ambos se beneficiam, e esse comportamento é repassado entre as gerações humanas e também entre os botos”, explicou.
A atividade foi reconhecida como patrimônio cultural imaterial de Santa Catarina em 2018. A cidade de Laguna também detém, desde 2016, o título de Capital Nacional dos Botos Pescadores, conferido por meio da Lei 13.818.
Atualmente, pesquisadores da UFSC trabalham na elaboração de um dossiê a ser enviado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O objetivo é obter o reconhecimento da pesca colaborativa como patrimônio cultural do Brasil.