O consumidor do leite longa vida pode preparar o bolso. O litro do produto pode chegar aos R$ 7 até o início do próximo mês. A previsão pessimista é do presidente do Sindileite (Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados) de Santa Catarina, Valter Brandalise. Segundo ele, em pequenos mercados pelo Estado esse preço já vem sendo praticado.
Com a aprovação na Assembleia Legislativa, no início do mês passado, do projeto de lei 78/2022, de autoria do Poder Executivo, que manteve o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) do alimento em 7% até o fim do ano que vem, a expectativa era de uma redução no litro do produto, porém o que se observa é uma crescente alta.
No início de maio ainda era possível comprar o litro por R$ 4,60 em grandes redes de supermercados.
“Na época daquela questão tributária, todo mundo falava que o aumento do leite se devia a questão tributária. Eu falei que parte sim era tributário, parte não era, mas era de uma situação que o mundo inteiro está vivendo de um processo inflacionário, esse processo se você ver não é só no leite, é em tudo”, avaliou Brandalise.
Segundo ele, praticamente as cadeias produtivas se desestruturaram uma parte em função da pandemia, a outra parte quando estava se recuperando iniciou a guerra na Ucrânia, o que resultou em uma forte subida do preço.
Levantamento da Faesc (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina) na década de 90 tinham 70 mil produtores de leite e agora em 2022 são 24 mil.
“Se polemizou muito aquela questão do leite, que nós estávamos tentando resolver era um problema interno, de desestímulo do produtor. O produtor estava totalmente desestimulado em produzir leite, e infelizmente não conseguimos absolutamente nada. Porque tudo se creditou aumento do leite em função da tributação e já deu para perceber que não foi”, comentou.
Desequilíbrio da oferta e demanda
O presidente do Sindileite sustenta que o efeito da redução do ICMS foi R$ 0,25, nada mais que isso. Portanto, o que se está sendo visto nas gôndolas é um desequilíbrio entre oferta e a demanda.
O produtor de leite nos últimos dois anos sofreu com grandes custos como o aumento do preço do milho e da soja. “E o preço do leite não acompanhou, o produtor fez o que? Tirou o pé não produziu mais, não produzindo mais começou a faltar leite”, justificou Brandalise.
Em maio, as indústrias pagaram o litro do leite que sai do produtor, mais o frete do primeiro percurso, entre R$ 2,85 e R$ 2,90. “Esse é o preço que a indústria estava adquirindo em maio. Mês de junho vai subir de novo. Eu acredito aí que vai chegar acima de R$ 3”, disse.
Já o leite chamado spot, que as indústrias vendem entre elas, fechou essa segunda quinzena de junho na média de R$ 4,15.
Não se sabe por quanto tempo essa alta deve durar, mas a previsão é bem pessimista por parte da indústria leiteira. “Você vai chegar ao cúmulo de ver leite a R$ 7 logo, logo”, avisou Brandalise.
“Eu não estou dizendo que as grandes redes, que têm uma capacidade de barganha maior, mas esses mercados com menor barganha, R$ 6 já é uma realidade”, emendou.
O custo do leite para o produtor, segundo os dados da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) está entre R$ 2,20 e R$ 2,30. Após o processo de industrialização até chegar aos mercados são mais R$ 1,50, ou seja, um total de R$ 3,70.
Supermercados reclamam das indústrias
O presidente da Acats (Associação Catarinense de Supermercados), Francisco Crestani, refutou qualquer responsabilidade do setor supermercadista quanto à alta do preço do leite longa vida e responsabilizou a indústria leiteria pela alta.
“Vários supermercados baixaram aqueles 10% (referente ao ICMS) que tinha, porque o estoque que tinha em casa também baixou o próprio ICMS para nós, mas a indústria não baixou o preço, ela manteve o mesmo preço que estava nos vendendo antes”, reclamou.
Segundo Crestani, o setor supermercadista pagava em torno de R$ 3,40 e R$ 3,50 o litro do leite e esta semana está acima de R$ 5. “Então no ponto de venda o leite vai passar de R$ 6 o litro”, afirmou, reforçando a previsão da indústria leiteira.
Procurada, a Secretaria de Estado da Fazenda esclareceu que o ICMS do leite longa vida retornou para 7% em maio, após a votação na Alesc do projeto enviado pelo Poder Executivo. Com isso, o produto voltou a fazer parte da cesta básica, cuja alíquota é de 7%.
Fonte: ND+