Duas professoras da rede municipal de Nova Erechim, no Oeste de Santa Catarina, vivem uma situação que expõe a precarização do ambiente escolar e a falta de sensibilidade da gestão pública. Há meses, elas são obrigadas a almoçar em uma praça próxima à escola onde trabalham, após a Prefeitura determinar que servidores não podem realizar refeições dentro das dependências do colégio.
A decisão, segundo relatos das educadoras e documentos divulgados por veículos locais, partiu do setor jurídico da Prefeitura e tinha como suposta justificativa “reduzir gastos com energia elétrica e água”. A medida proibiu o uso de eletrodomésticos como geladeira e micro-ondas na Escola Reunida Municipal Professora Lydia Franzon Dondoni, onde as docentes atuam.
Sem local adequado para comer e com intervalo curto de almoço, as servidoras passaram a se alimentar em espaços improvisados — na praça pública em frente à escola ou dentro de carros estacionados nas imediações. Em dias de frio, calor ou chuva, a rotina se repete, gerando indignação entre colegas e pais de alunos.
O caso ganhou repercussão nas redes sociais após fotos mostrarem as duas mulheres sentadas em um banco de madeira, com marmitas nas mãos, em frente ao muro da escola. As imagens viralizaram e provocaram uma onda de críticas contra a Prefeitura, considerada insensível com os trabalhadores da educação.
Em nota oficial divulgada no dia 9 de outubro, a Administração Municipal de Nova Erechim negou a existência de qualquer proibição e afirmou que “nenhum servidor está impedido de realizar suas refeições ou usufruir do intervalo legal de trabalho, desde que em espaços compatíveis com as normas de segurança e higiene”. O documento também argumenta que as cozinhas das escolas são destinadas exclusivamente à merenda dos alunos, conforme normas da Anvisa e do FNDE.
O texto cita ainda que a decisão busca preservar a segurança e a integridade dos alunos e servidores, evitar interferências na rotina pedagógica e garantir eficiência na gestão dos bens públicos. A Prefeitura classificou as denúncias como “desinformação” e reafirmou seu compromisso com a legalidade e a valorização dos servidores.
Por outro lado, professores e o sindicato da categoria afirmam que a justificativa de “economia” não se sustenta e que o tratamento desigual entre funcionários que residem no município e os que vêm de cidades vizinhas configura discriminação. Segundo relatos, apenas servidores de fora continuam podendo permanecer no local durante o almoço.
“Educação se faz com respeito”, escreveu um grupo de apoio em nota de solidariedade às professoras. Para eles, a situação revela um ambiente de trabalho hostil e desrespeitoso com profissionais que dedicam a vida à formação das crianças.
Enquanto a Prefeitura tenta conter o desgaste institucional, as imagens das professoras comendo na praça seguem circulando como símbolo da falta de empatia e valorização do magistério em pequenas cidades do interior catarinense.