A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) viveu um dos momentos mais controversos de sua história recente. Um vídeo de um professor conselheiro dançando em meio a uma sessão do Conselho Universitário viralizou nas redes sociais e acirrou ainda mais os ânimos em torno da possível retirada do nome do ex-reitor João David Ferreira Lima do campus Trindade, em Florianópolis.
“Dancinha” de professor vira símbolo da crise
O vídeo mostra o conselheiro Alex Degan respondendo a provocações com uma dança debochada, em pleno auditório da Reitoria, durante a reunião realizada na sexta-feira (6). A atitude arrancou aplausos de parte da plateia, incluindo do reitor e da vice-reitora da UFSC, mas também revoltou políticos, representantes da direita e membros da família do ex-reitor homenageado.
Para a advogada Heloísa Blasi Rodrigues, representante da família Ferreira Lima, a cena foi “desrespeitosa” e “vergonhosa”. Ela pediu que o ato fosse registrado em ata e afirmou que o Conselho Universitário “virou um circo de horrores”.
O secretário de Assistência Social de Florianópolis, Bruno Souza, classificou a dança como um “deboche à sociedade” e também se manifestou nas redes, exigindo mais respeito e responsabilidade por parte da universidade.
UFSC rejeita impugnação, mantém relatório da Comissão da Verdade
A confusão ocorreu durante a votação de um dos pontos mais sensíveis da história recente da universidade: a decisão sobre o relatório final da Comissão Memória e Verdade (CMV), que propõe, entre outras medidas, a retirada da homenagem ao ex-reitor João David Ferreira Lima, acusado de colaborar com o regime militar.
O Conselho rejeitou, por maioria, o pedido de impugnação apresentado pela família do ex-reitor, representada pela advogada Heloísa Blasi. O parecer do relator, conselheiro Ubirajara Franco Moreno, prevaleceu com apenas um voto contrário. Segundo ele, o relatório da CMV tem caráter histórico e não gera efeitos jurídicos. No entanto, acolheu dois pontos: a limitação do escopo da CMV ao período previsto em lei e a inclusão da obra “UFSC: Em nome da Verdade” no acervo universitário.
Topázio sai em defesa de ex-reitor
No sábado (7), o prefeito de Florianópolis, Topázio Neto (PSD), publicou um vídeo nas redes em defesa de João David Ferreira Lima. Segundo ele, o ex-reitor foi “um cidadão respeitável que contribuiu para o desenvolvimento da cidade”, agora alvo de um suposto movimento para apagar sua memória.
Topázio ironizou a gestão atual da UFSC: “Depois do abandono do governo federal, a UFSC não tem dinheiro nem para comprar papel higiênico.” E concluiu afirmando que “não é verdade que ele era da ditadura. Foi até fichado pelo SNI. O que mais impressiona é que não permitem uma defesa justa”.
Sessão aberta, polarizada e marcada por tensões
A reunião de sexta-feira contou com forte presença de políticos e militantes de ambos os lados do espectro ideológico. Estavam presentes o vereador Ingo Camara, o secretário Bruno Souza e movimentos de esquerda e direita, todos em clima tenso e de constantes provocações. A assessoria da universidade confirmou que a dança do conselheiro foi uma “resposta a provocações vindas do público”.
Apesar da confusão, a UFSC reforçou em nota que a sessão foi aberta para garantir transparência e que o regimento interno foi respeitado.
Uma nova reunião foi marcada para sexta-feira (13). O Conselho Universitário irá deliberar sobre a recomendação que propõe oficialmente a retirada do nome de João David Ferreira Lima do campus Trindade. A família do ex-reitor confirmou presença.
Entenda o caso
Criada em 2014, a Comissão Memória e Verdade da UFSC investigou violações de direitos humanos durante a ditadura militar. Em 2018, apresentou um relatório com 12 recomendações. A mais polêmica delas é a sexta: retirar o nome do ex-reitor do campus. A comissão baseia-se em documentos que indicam colaboração de Ferreira Lima com órgãos de repressão do regime militar.
Em resposta, a família afirma que ele tentou, na verdade, proteger membros da comunidade acadêmica e lançou um livro, “UFSC: Em nome da Verdade”, com versões que contestam o relatório oficial.