No último domingo (20), data em que se celebrou o Dia Mundial do Doador de Medula Óssea, Ritcheli Stein completou dois anos de vida após um transplante que lhe devolveu a esperança. Diagnosticada com leucemia promielocítica aguda, um subtipo agressivo da leucemia mieloide, ela passou por dois transplantes realizados no Cepon (Centro de Pesquisas Oncológicas), em Florianópolis. O mais recente só foi possível graças à doação de um jovem de Minas Gerais, encontrado pelo Redome (Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea).
“Esse doador não só me deu a chance de viver, mas também se tornou um amigo. Hoje, sigo em recuperação e sou imensamente grata”, conta Ritcheli.
A luta contra a leucemia
Os primeiros sintomas surgiram em 2021: fraqueza, sangramentos e manchas roxas. Após exames, veio o diagnóstico. Ritcheli iniciou quimioterapia, mas enfrentou recaídas. Em 2023, realizou um transplante autólogo — feito com as próprias células-tronco — que não foi suficiente para conter a doença.
Com a progressão do quadro, foi necessário buscar um doador compatível. O jovem mineiro, desconhecido até então, tornou-se a peça-chave para o sucesso do tratamento.
A força da doação
De janeiro a agosto deste ano, o Cepon já realizou 81 transplantes de medula óssea. Em 2024, foram 119. O diretor-geral da instituição, Dr. Marcelo Zanchet, destaca a importância do procedimento:
“O transplante de medula é uma das ferramentas mais eficazes no combate a doenças hematológicas graves”.
O Cepon é o único centro em Santa Catarina que realiza transplantes autólogos, além dos alogênicos (com doadores).
Como se tornar um doador
De acordo com o Hemosc (Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina), para se cadastrar como doador é necessário:
- Ter entre 18 e 35 anos;
- Estar em boas condições de saúde;
- Realizar uma coleta de 5 ml de sangue, para tipagem no sistema HLA;
- Entrar automaticamente no banco de dados do Redome.
Uma compatibilidade pode levar anos para ser encontrada, mas quando ocorre, pode representar a única chance de vida para pacientes em tratamento.
A realidade da leucemia em SC
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 760 novos casos de leucemia devem ser registrados em Santa Catarina em 2025, sendo 50 apenas em Florianópolis. No Cepon, 270 pacientes foram diagnosticados somente entre janeiro e agosto deste ano, e em 27 deles a suspeita de leucemia já surgiu na primeira consulta.
A gerente técnica do centro, Dra. Mary Anne Taves, reforça a importância da atenção aos sinais e exames de rotina:
“O hemograma simples pode apontar alterações precoces. Como a leucemia pode evoluir silenciosamente, é essencial observar sintomas como febre persistente, infecções frequentes, fadiga extrema, perda de peso sem causa aparente, além de sangramentos e hematomas”.
Uma história que inspira
A jornada de Ritcheli é um exemplo de coragem e gratidão. Sua recuperação só foi possível graças a um gesto solidário. O caso reforça a importância de ampliar o número de voluntários no Redome, para que mais pacientes possam ter acesso a um transplante que representa vida.