Durante o julgamento de 12 acusados de envolvimento em uma possível tentativa de golpe de Estado no Brasil, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), não deixou passar despercebido um detalhe curioso revelado pela denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR): os apelidos que alguns dos réus utilizavam para se referir a ele.
Entre eles, o termo “cabeça de ovo” foi citado diretamente pelo coronel do Exército Márcio Nunes de Resende Júnior em uma das conversas interceptadas. Moraes, então, leu em voz alta a transcrição da fala do militar: “Se a gente não tem coragem de enfrentar o cabeça de ovo, vamos enfrentar quem?”, comentou, em tom de ironia, sobre a suposta criatividade dos envolvidos.
— Além disso, eles também conseguiram criar vários apelidos para este ministro relator — disparou Moraes, arrancando risos discretos no plenário.
O ministro Flávio Dino, que também participava da sessão, entrou na brincadeira e afirmou: — Quero dizer, Vossa Excelência, que o anterior é mais simpático: centro de gravidade. É mais educado.
Ministro rebate tentativas de afastamento
Apesar do tom bem-humorado em alguns momentos, Moraes foi direto ao rebater os pedidos das defesas, que alegaram sua suspeição por ter sido, supostamente, um dos alvos do grupo.
— Se o golpe tivesse sido concretizado, não estaríamos aqui julgando esses fatos. Eu, certamente, não seria o relator. Talvez, nesse cenário, minha suspeição fosse julgada pelos ‘kids pretos’ — disse, em referência a um dos termos utilizados pelos acusados nas conversas interceptadas.
Críticas a comportamento de foragido
Durante sua fala, Moraes também fez críticas contundentes ao comportamento de Paulo Figueiredo, único integrante do chamado “núcleo 5” da denúncia. O ministro destacou que Figueiredo, atualmente foragido, possui um mandado de prisão preventiva em aberto.
— Atenta contra a democracia brasileira sem sequer ter coragem de viver no Brasil. E só exerce algum tipo de influência sobre os militares porque é neto do último presidente do regime militar — disse, referindo-se a João Figueiredo.
Conversas recheadas de deboche e xingamentos
O ministro não poupou comentários sobre o tom das conversas trocadas entre os acusados, que, segundo ele, demonstram não apenas intenções golpistas, mas também falta de civilidade.
— Parece que uma das características dos militares golpistas é a falta de educação. Talvez sirva como critério para promoção — disparou Moraes, de forma ácida.
Julgamento segue em andamento
O processo analisado nesta terça-feira (21) envolve 12 acusados que, segundo a denúncia, faziam parte do chamado “núcleo 3”, formado majoritariamente por militares e um policial federal. Eles teriam participado da elaboração e apoio logístico para uma possível tentativa de ruptura institucional no país.
Até agora, o Supremo já tornou réus outros 21 envolvidos, ligados a diferentes núcleos dessa suposta organização criminosa.
O julgamento segue na Primeira Turma do STF, com previsão de desdobramentos nas próximas semanas.