Praia de Tijucas é mais ‘limpa’ do que a praia alargada de Balneário Camboriú

A história do Patinho Feio nos ensina que devemos aceitar aquilo que é diferente e enxergar a beleza no que cada ser tem de especial. Tijucas tem uma das maiores praias de Santa Catarina, com um gigantesco potencial inexplorado. Enquanto municípios como São José usufruem da orla marítima para exploração turística e de lazer para as famílias, a Capital do Vale do Rio Tijucas segue com uma gigantesca venda nos olhos, que impede o desenvolvimento da Praia Pontal Norte.

Copa Lama. Esse é o apelido pelo qual é conhecida a maior praia de Tijucas. Separada por apenas alguns quilômetros em terra, a praia tijuquense é colada com Zimbros ao Norte e também faz divisa com a Foz do Rio Tijucas, a Oeste, o Oceano Atlântico a Leste e a Foz do Rio Inferninho e a Praia de Ganchos ao Sul.

Tijucas não é a Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, mas por vezes é confundida. Aliás, é daí que surgiu o apelido Copa Lama. O desprezo pela nossa praia é tão grande que o escárnio é evidente com a comparação feita entre a Praia Pontal Norte e Copacabana, no RJ, um dos principais e mais famosos destinos turísticos do Brasil.

O que pouca gente sabe é que, não muito tempo atrás, a praia de Tijucas era usada tanto quanto Copacabana para momentos de descontração, descanso e confraternização entre as famílias da região.

No acervo fotográfico dos quase 28 anos do Jornal Razão, encontramos diversos registros que comprovam: sim, a praia Pontal Norte era ponto turístico. Sim, muitas famílias banhavam-se e usufruíam da privilegiada calmaria que só a praia de Tijucas pode oferecer.

Recanto das aves

A bióloga Carla Cravo e o esposo Cristiano Voitina são frequentadores assíduos da praia. Cristiano é autor do livro “Aves Catarinenses” (2017), em que o biólogo e pesquisador registrou mais de 600 espécies em um trabalho de oito anos. Cristiano destaca a Praia de Tijucas como importante ponto de parada para descanso e alimentação de aves em migração. No seu livro, constam 14 espécies de pássaros fotografados na Foz do Rio Tijucas. Em 2017, ocorreu uma grande surpresa: foi o primeiro registro de duas espécies de aves em Santa Catarina. Entre as espécies encontradas na Praia de Tijucas, destacam-se o flamingo-dos-andes, agachadeira-mirim e o maçarico-de-costas-brancas

De acordo com Voitina, a praia de Tijucas é diferente de qualquer outra do Brasil pela importância na preservação da biodiversidade dos pássaros migratórios.

“Os biólogos chamam esta praia de trampolim, ou seja, aves que vem migrando do hemisfério norte e se deslocam para o hemisfério sul param aqui para se alimentar na costa ou nas plantações de arroz recém colhido, descansar e depois seguir viagem. Hoje o Safári Fotográfico está crescendo muito no mundo, se Tijucas tem uma área tão bem preservada e rica, acho que isso pode se tornar um grande diferencial no turismo de observação. Com a repercussão das fotos de aves raras um biólogo da Bélgica visitou Tijucas em busca de preciosidades. Isso mostra que a região está sendo vista com bons olhos pelo mundo”, afirma o biólogo.

O que explica a lama em Tijucas?

De acordo com a pesquisadora Milena Novack, nossa baia abriga uma das maiores praias de Santa Catarina, com cerca de 12km de extensão, com um grande potencial. Ela possui característica geológica única e preservada, estando dentro de uma planície formada por Cordões de Chernier, chamando atenção de estudiosos da Universidade de Boston que a mais de 10 anos vem desenvolvendo estudos sobre nossa cidade. Tijucas é praticamente um museu a céu aberto.

A praia de Tijucas é formada por rochas de origem pré-cambrianas do complexo metamórfico Brusque e de complexos cristalinos que tiveram origem ao final do mesozoico, a partir da separação das placas tectônicas da América do Sul e África do Sul. As variações do nível relativo do mar no decorrer do Quaternário são um dos principais responsáveis pela elaboração da Planície de Maré de Tijucas. Foi nesse momento que a parte costeira da Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas sofreu grandes mudanças com a formação de uma grande planície holocênica.

Essa planície foi constituída por uma série de cordões de Cheniers, compostos por sedimentos grosseiros e materiais bioclásticos que se intercalam com as áreas planas de sedimentação lamosa.

Cheniers são um tipo de depósito associados à sedimentação lamosa, de compreensão complexa e aparecimento raro, presentes no Brasil apenas em Tijucas e em parte de Governador Celso Ramos.

Esses cordões possibilitaram a acumulação de sedimentação lamosa, que se tornou a característica marcante da Planície de Maré de Tijucas.

Para que seja formada essa lama é preciso material fino, que é fornecido através dos rios Tijucas e Inferninho. Esses rios fornecem aporte de sedimentos finos para serem depositados e essa deposição é facilitada pela baixa energia do ambiente.

Por se tratar de uma área com baixo interesse econômico para o turismo e setor imobiliário, a planície não sofre pressões ambientais como as que ocorrem nas demais praias do estado. Além disso, também é abandonada pelo poder público e por grande parte da população. No entanto, a área até hoje é pouco estudada. Não se sabe o impacto ambiental e a importância deste ambiente.

Balneabilidade

Agora, vamos ao ponto alto desta matéria. O Jornal Razão contratou um estudo de balneabilidade, com o apoio financeiro viabilizado pelo vereador de Tijucas, Rudnei de Amorim, pessoa que nutre profundo carinho pela condição da nossa praia e que, no passado, inclusive, auxiliou e muito no projeto S.O.S Praia de Tijucas.

Os testes foram coletados e realizados pelo Aquavita Laboratório de Analises no dia 13 de fevereiro. Levou-se em consideração pH in loco e as bactérias Enterococos e Escherichia Coli. Os resultados foram surpreendentes.

Seriam necessárias várias coletas durante um bom período de tempo para comprovações 100% seguras. Todavia, com este simples teste, comparando superficialmente, a condição da praia de Tijucas é de colocar inveja nas praias da região.

A praia de Tijucas tem, oficialmente, mais condições de balneabilidade do que as praias de Balneário Camboriú. Sabe aquela praia alargada que é famosa no mundo inteiro? Pois é. É muito mais saudável mergulhar na lama da Praia de Tijucas do que se aventurar nas águas da Praia Central de BC.

Os resultados na íntegra dos testes estão disponíveis no site do Jornal Razão. “Pelos dados que tivemos nos laudos, de acordo com a Conama 274 está própria para esta amostragem. Lembrando que para ter um ponto próprio para banho deve ser analisar semanalmente os mesmos pontos e ter um n° x de amostras aprovadas seguidamente”, esclarece o laboratório.

Tendo em vista tudo o que foi levantado, o Jornal Razão volta a fazer aquele velho questionamento: por que a praia de Tijucas não tem um devido carinho, respeito e apreço por parte do povo e de seus representantes? Será que não está mais do que na hora de passarmos a ver com outros olhos, desta vez mais amorosos, para prospectar um belo futuro à Beira Mar?

Podemos ser chamados de sonhadores. Mas é fato: o Jornal Razão ama e vive Tijucas. Queremos o melhor para nossa terra e para nossos terráqueos. Ou melhor: tijuquenses.

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