Ao Fantástico, mãe de Tijucas diz que “só quer que a justiça seja feita”

Sem mencionar elementos imprescindíveis para a compreensão do caso, Fantástico focou reportagem em “vender” a ideia difundida pelo The Intercept Brasil

Ao Fantástico, mãe de Tijucas diz que “só quer que a justiça seja feita”

Rede Globo / Reprodução

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Numa reportagem que mostrou mais do mesmo, o Fantástico, da Rede Globo deu continuidade à narrativa difundida pelo The Intercept Brasil.

Driblando elementos importantes sobre o fatídico episódio que colocou Tijucas em evidência para todo o Brasil, a Rede Globo evitou a todo custo mencionar quem é o principal suspeito de ter engravidado a menina, à época com apenas 10 anos de idade e se ateve à briga pelo direito ao aborto e a destruição de reputação da juíza e promotora responsáveis pela condução do caso.

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Na entrevista exibida com a mãe da menina, anunciada durante toda a semana como algo bombástico e exclusivo, nada relevante foi mencionado.

Perguntas importantes não foram feitas, ou se foram, acabaram deixadas de lado na hora da exibição. Chamou a atenção o fato de que não falou-se sobre o suposto consentimento por parte dos tutores. Também ignorou-se como está sendo a recuperação da menina e não foi mencionado o real motivo da juíza não ter concordado imediatamente com a vítima deixar o abrigo e retornar para a casa de sua família.

Em determinado trecho um médico entrevistado afirma não se tratar de um aborto, e sim uma “gestação finalizada”. Apesar disso, em momento algum foi falado nos traumas que o procedimento pode ter causado não apenas no corpo, mas principalmente na mente da garota.

Acompanhe o que foi dito pela mãe à reportagem do Fantástico:


“Depois de tudo que a gente passou, eu vendo a minha filha bem hoje, eu me sinto aliviada, né. Estou grata pela saúde da minha filha, que está bem por um pouco de justiça, né?”.
“Ela é uma criança. Não vou falar que para a senhora que estou feliz. A gente está passando por um processo bem complicado ainda”.
“Se eles queriam preservar a minha filha, era algo que não deveria ser perguntado para ela. Eu acho que eu deveria responder por ela, não ela. Ela é uma criança, ela é muito imatura”.
“Eu me sentia um nada porque eu não podia tomar uma decisão pela vida da minha filha. Então pra mim foi muito difícil. Chorei, me desesperei, gritei dentro do fórum”.
“Foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Porque todos os dias eu chorava. Quando eu ia visitar, ela sempre chorava e pedia pra ir embora e eu dizia que não podia fazer nada. Isso dói muito”.

Num brevíssimo momento em que é falado sobre a provável autoria do rapaz de 13 anos, todavia, sem mencionar quem é o rapaz, o Fantástico exibe um pequeno trecho de entrevista com o delegado, onde ele afirma que o padrasto da menina forneceu amostra de DNA voluntariamente para a polícia.

“Ele foi acusado sem provas, literalmente. Foi afastado de casa e teve que manter distância da minha filha. A gente só quer que a justiça seja feita. Eu prefiro viver o hoje, ne? Cuidar da minha filha hoje. Pra gente pensar juntos daqui pra frente, o que será melhor pra nós. Um dia de cada vez agora”.

O caso segue sendo investigado pela Polícia Civil de Santa Catarina. 

O Ministério Público de SC pediu novas diligências sobre alguns pontos do caso e o presidente Bolsonaro afirmou em entrevista neste domingo que o corpo da bebê passará por exame de DNA, que revelará a identidade do pai. 

A principal linha de investigação aponta a suspeita de que a menina foi engravidada pelo filho de seu padrasto, de 13 anos e que haveria uma suposta “relação consentida” por parte dos pais. 

O delegado responsável, inclusive, disse que a gravidez possa ter sido “planejada” pelas duas crianças.

Fonte: Jornal Razão