Durante depoimento prestado à Polícia Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a se defender das acusações sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Ao responder perguntas relacionadas aos acampamentos em frente aos quartéis, Bolsonaro confrontou a conduta do atual governo:
“Se o risco era tão iminente, por que o Lula não desmobilizou os acampamentos? Por que deixou esse pessoal lá?”, indagou.
Segundo ele, o governo teria permitido a permanência dos manifestantes por dias, mesmo diante do possível risco à ordem democrática.
“Malucos” e pedidos por AI-5
Ainda durante a oitiva, Bolsonaro foi questionado sobre os apoiadores que pediam intervenção militar e o retorno do AI-5. Ele se distanciou dos grupos mais radicais e minimizou a ameaça representada por eles:
“Agora, tem sempre os malucos ali com aquela ideia de AI-5, intervenção militar… Mas isso não existe. As Forças Armadas não iam embarcar nisso”, declarou.
O ex-presidente afirmou que orientava seus apoiadores a se afastarem de mensagens antidemocráticas e disse desconhecer siglas como “IAE-5”, confundida por ele com o AI-5.
Defesa do “direito de desabafo”
Bolsonaro também afirmou que jamais incentivou movimentos golpistas e que sua postura foi de respeito à liberdade de expressão.
Segundo ele, os manifestantes tinham o “direito de desabafar” após a eleição e que sua presença nas ruas não significava necessariamente uma ameaça.
“Deixa o povo desabafar. Ninguém estava esperando intervenção. Isso não existe”, afirmou.
O ex-presidente voltou a enfatizar que o governo Lula teria tido tempo para agir antes do episódio do dia 8 de janeiro.
“Se era tão atentatório assim, por que no dia 2 de janeiro o atual presidente não desmobilizou os acampamentos e esperou mais 5 ou 6 dias?”, questionou.
Segundo ele, qualquer tentativa de remoção naquele momento poderia piorar a situação:
“Se a gente desmobiliza, talvez esse pessoal vá pra Praça dos Três Poderes, o que seria ainda pior.”
Depoimento foi prestado a Moraes
A oitiva foi conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, que é relator do inquérito das milícias digitais e dos atos antidemocráticos.
O depoimento de Bolsonaro faz parte das diligências solicitadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que investiga supostos esforços para impedir a posse de Lula e instigar ações contra a democracia.
A defesa do ex-presidente insiste que ele não cometeu qualquer crime e que sua atuação após as eleições foi institucional e legal.