A crise no Partido Liberal (PL) de Santa Catarina, que ganhou ampla visibilidade nos últimos dias com trocas públicas de acusações entre lideranças do grupo bolsonarista, teve um novo e importante desdobramento. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se pronunciou em suas redes sociais, nesta terça-feira (4), para criticar duramente as falas da deputada estadual Ana Campagnolo (PL-SC), classificando-as como “totalmente inaceitáveis”.
O texto, longo e detalhado, diz respeito à disputa interna que divide o PL catarinense entre os aliados de Caroline de Toni (PL-SC) e o grupo que apoia Carlos Bolsonaro (PL-RJ) como candidato ao Senado em 2026.
O início da disputa
O conflito começou há alguns dias. Ana Campagnolo afirmou que a chegada de Carlos Bolsonaro a Santa Catarina havia “desestabilizado o projeto da direita catarinense” e provocado o afastamento de Caroline de Toni do partido. A deputada chegou a dizer que “530 dos 580 vereadores do PL” apoiavam Carol para o Senado, mas que ela teria perdido a vaga e espaço após a entrada do filho do ex-presidente na corrida eleitoral.
A declaração ganhou repercussão nacional e gerou reações imediatas. Carlos Bolsonaro respondeu chamando Campagnolo de “mentirosa”, enquanto Michelle Bolsonaro se posicionou publicamente a favor de Caroline de Toni, afirmando estar “fechada com a Carol, independentemente da sigla partidária”.
A intervenção de Eduardo Bolsonaro
Diante do cenário de divisão, Eduardo Bolsonaro decidiu se manifestar. No texto publicado em suas redes, o parlamentar afirma que tentou resolver o impasse de forma reservada, mas que, após ser exposto, se viu “na obrigação de esclarecer pontos que deveriam ser óbvios para quem veste a camisa de um time político”.
Segundo ele, a direita não pode agir como um grupo desorganizado, e sim como uma estrutura hierárquica, com liderança e respeito às decisões internas.
“Um grupo político precisa de liderança estabelecida, diretrizes e valores definidos. É forjado sobre as bases de comando e da personalidade política que o estruturou. Goste-se dele ou não, é inegável que meu pai fundou um movimento político”, escreveu.
Crítica direta a Campagnolo
Eduardo Bolsonaro foi contundente ao afirmar que Ana Campagnolo errou ao se insurgir publicamente contra uma decisão da liderança nacional, referindo-se à escolha de Carlos Bolsonaro como um dos nomes da chapa majoritária em Santa Catarina. “As declarações da deputada estadual do PL são totalmente inaceitáveis — na forma, por terem sido feitas em público; e no conteúdo, por se insurgirem contra a liderança política que a projetou”, declarou.
O parlamentar relembrou que a própria Campagnolo foi defendida pela família Bolsonaro em 2018, quando enfrentou resistência ao mudar do Oeste catarinense para Joinville para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa. “Muitos queriam barrar sua candidatura sob o pretexto de que ela não era dali. Eu a defendi, e o tempo mostrou que estava certo. Ela foi eleita e reeleita. O mesmo princípio que defendi para ela, defendo agora para Carlos Bolsonaro: deixemos o povo catarinense decidir.”
Eduardo ainda destacou que não se trata de imposição, mas de coerência política. “Há duas vagas ao Senado, e a liderança do presidente — que merece nosso respeito — escolheu Carlos para uma delas. Será mesmo um sacrifício tão grande aceitar uma decisão da liderança?”, questionou.
Defesa da hierarquia e da unidade
No texto, o deputado federal também fez uma defesa firme da hierarquia e da disciplina dentro do movimento bolsonarista. “Se quisermos construir um grupo forte, precisamos tratar divergências internamente, com cada um entendendo seu papel e seu lugar”, escreveu. Ele afirmou que a direita brasileira ainda padece de “amadorismo político” e que a falta de unidade enfraquece o projeto conservador.
Eduardo foi além: criticou o momento escolhido por Campagnolo para abrir a crise, citando que Jair Bolsonaro enfrenta um momento jurídico delicado. “Trazer essa discussão eleitoral justamente agora, quando o líder do movimento está sob ameaça de prisão injusta, é um ato de desrespeito. O foco deveria ser lutar contra a perseguição, não em cálculos políticos”, disse.
O posicionamento de Eduardo acontece após a turbulência que envolveu não só as declarações de Campagnolo, mas também o apoio público de Michelle Bolsonaro a Caroline de Toni e a tentativa do governador Jorginho Mello (PL) de conter o desgaste interno.
Enquanto Carlos Bolsonaro tenta se consolidar como candidato ao Senado por Santa Catarina, Esperidião Amin (PP) negocia sua reeleição em aliança com o governo estadual — o que deixa Caroline de Toni fora da chapa. A disputa expôs as divisões dentro da direita catarinense, um dos principais redutos eleitorais do bolsonarismo no país.