A confirmação de que a Prefeitura de Balneário Camboriú pretende gastar R$ 410 mil para trazer a banda Jota Quest ao aniversário de 61 anos do município caiu como uma bomba entre moradores e internautas. O evento, previsto para o dia 20 de julho, na Praia Central, com entrada gratuita, seria parte da programação especial de inverno organizada pela Secretaria de Turismo (Sectur). No entanto, o valor da contratação e o momento da decisão têm gerado revolta.
Mesmo com o uso legal da inexigibilidade de licitação — com base na Nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021) — a justificativa de fomentar o turismo e aquecer a economia local não convenceu grande parte da população. A principal crítica gira em torno da precariedade do atendimento no Hospital Municipal Ruth Cardoso, onde duas tragédias recentes reforçaram o sentimento de que o dinheiro poderia ter outro destino.
“Jogar dinheiro no ralo”
Comentários tomaram conta das redes sociais logo após a publicação oficial. “Poderia apoiar os músicos locais e economizar 80% desse valor. Já fizeram vários shows aqui, pelo amor de Deus @jupavan, use esse dinheiro pro Ruth Cardoso, vai colocar dinheiro no ralo?!”, escreveu um usuário. Outros foram mais duros: “Enquanto no Ruth Cardoso não temos um aparelho de ressonância!”, disparou um internauta revoltado, com emojis de palhaço ao final da frase.
A repercussão foi intensa. “Melhor seria investir em segurança, pois a cidade está uma vergonha”, comentou outro perfil. “Jota Quest petista, mas querem tocar pros ricos”, alfinetou um morador com tom político. E ainda teve quem questionasse os números: “Na internet diz ‘de 150 a 300’. Como admitir 410? Algo de errado não está certo! Que tal cuidar da saúde e segurança em primeiro lugar?”, apontou outra seguidora.
Tragédias expuseram fragilidades no sistema de saúde
A revolta da população aumentou após a morte de um bebê de 60 dias, vítima do Vírus Sincicial Respiratório (VSR), na noite de segunda-feira (5). Poucos dias antes, outro recém-nascido havia falecido durante o parto no mesmo hospital. O Ministério Público abriu três frentes de investigação sobre a gestão da unidade, que já enfrentava denúncias anteriores.
“Investe no hospital que anda mat4ndo as crianças”, disse um comentário, com tom direto e crítico. Outro morador escreveu: “Prefeitura zoando com a cara do contribuinte e fingindo demência quanto aos problemas básicos da cidade!!!!”.
Prefeitura argumenta incentivo ao turismo, mas críticas não cessam
A Sectur defende que o investimento busca impulsionar o turismo na baixa temporada e movimentar o setor cultural com o BC Music Festival, que terá 80 apresentações de artistas locais. Ainda assim, a falta de equilíbrio no uso dos recursos públicos foi novamente apontada. “Um show excelente. Mas não. O Ruth Cardoso deveria ser prioridade”, comentou uma ex-produtora cultural com anos de atuação no Rio Grande do Sul.
“Estão no país da Alice e suas maravilhas? Prestem mais atenção”, ironizou outro morador. “Será que não tem ninguém pra peitar essa cambada?”, questionou outro. “Prefeita que vá comprar equipamentos para as UPAs!”, escreveu um perfil indignado.
Silêncio oficial e desgaste crescente
Até o momento, a prefeita Juliana Pavan (PSD) não comentou publicamente a repercussão negativa. Internamente, a prefeitura mantém o discurso de valorização da cultura, fomento ao turismo e fortalecimento da economia criativa.
Entretanto, nas ruas e nas redes, o que se vê é uma cobrança clara por prioridades. Com a saúde fragilizada, a segurança sendo contestada e o custo de vida elevado, para muitos moradores, o show — por mais simbólico que seja — soa como desconectado da realidade.