A Prefeitura de Florianópolis investiga uma possível negligência do então diretor do NEIM Nossa Senhora de Lurdes, Pedro Henrique Cardoso, no caso que envolve Allec Sander de Oliveira Ribeiro, preso por armazenar e produzir pornografia infantil. Parte do material, segundo a Polícia Civil, teria sido feito dentro da própria creche, com crianças da unidade.
De acordo com documento ao qual o Jornal Razão teve acesso, o diretor recebeu uma denúncia interna ainda em fevereiro deste ano, relatando que o auxiliar de sala teria tocado nas partes íntimas de um aluno. No entanto, a prefeitura afirma que só tomou conhecimento formal da situação quatro meses depois, quando o caso já estava sob investigação da polícia.
Por causa desse possível atraso, a Secretaria Municipal de Educação instaurou um processo administrativo disciplinar (PAD) para apurar se houve omissão por parte da direção, o que resultou na exoneração de Pedro Henrique no início de julho.

Diretor nega omissão e diz que seguiu o protocolo
Servidor de carreira desde 2011, Pedro Henrique estava à frente da unidade há três anos. Ele afirma ter acolhido a família da criança e feito apurações internas com os demais profissionais. Segundo ele, à época, os próprios responsáveis pediram apenas a troca da criança de grupo, sem querer levar o caso adiante.
“Fiz tudo que estava dentro dos parâmetros legais para poder fazer a denúncia. A situação só foi formalizada quando entendi que havia indícios claros”, declarou o ex-diretor.
A exoneração gerou revolta entre professores, pais e sindicatos. Servidores alegam que a prefeitura sabia da vulnerabilidade na rotina da creche, especialmente nos horários em que apenas um profissional ficava responsável por várias crianças. Esse período, segundo relatos, teria sido usado pelo auxiliar para cometer os abusos.
Apuração revela contradições e reforça suspeita de omissão
Apesar da negativa de Pedro, a Prefeitura de Florianópolis sustenta que ele deveria ter comunicado o caso imediatamente às autoridades, independentemente da vontade da família. A obrigação de reportar qualquer indício de abuso infantil está prevista em lei e vale para todos os servidores da rede municipal.
Um trecho de documento interno ao qual o Jornal Razão teve acesso mostra que a própria equipe pedagógica já havia identificado comportamentos estranhos em algumas crianças da unidade, informação que também não teria sido comunicada formalmente.

Relato de criança levanta alerta sobre padrão de abuso
Um dos episódios que reforçou a investigação ocorreu com um menino autista de 5 anos, matriculado no mesmo NEIM. A mãe contou que o filho passou a demonstrar recusa em ir à escola, medo de adultos e comportamento sexualizado — sinais que começaram a se intensificar nos últimos meses.
Somente após sessões de terapia o menino verbalizou o que vinha enfrentando. Ele relatou que o professor “brincava de caverna” com ele e que “se escondia na cueca”. Os gestos e expressões infantis foram considerados compatíveis com situações de abuso sexual, segundo especialistas que acompanham o caso.
Mais de 7 mil arquivos e seis vítimas identificadas
Allec Sander de Oliveira Ribeiro segue preso. A Polícia Científica identificou mais de 7 mil arquivos com conteúdo de pornografia infantil, muitos deles registrados dentro da própria creche.