A equipe de reportagem da Rádio Clube, de São João Batista, parceiros do Jornal Razão, recebeu nesta semana os pais da menina Bianca dos Santos Mottes, de apenas três anos. Sua morte comoveu o Vale do Rio Tijucas e a família busca esclarecer os motivos que levaram a perda de sua querida filhinha.
Na entrevista exclusiva ao repórter Daniel Fernandes da Clube, os pais deram detalhes e explicaram que Bianca foi liberada sem sequer ter sido submetida a quaisquer exames no Hospital Infantil.
“Pra mim, pode liberar ela”, teria dito a médica no HI. Após a morte, o pai afirma que a “abriram ela toda” e descobriram que seu óbito foi causado por necrose isquêmica de intestino delgado, volvo de intestino delgado e cisto congênito mesentérico.
Confira o relato dos pais de Bianca.
“Ela começou a passar mal na terça-feira de manhã, mas achamos que não era nada demais e levamos para a creche normalmente. A diretora ligou para nós e disse pai, a Bianca está chorando com muita dor na barriga. Por volta do meio dia, levamos para o Hospital de São João Batista e ficamos durante toda a tarde. Todos os exames foram feitos e não mostrou nenhuma alteração.
O médico deu Buscopan e falou que poderia ser prisão de ventre. Ela nem chegou a dormir, ficou a noite toda acordada. Se gemia, reclamava, se torcia no chão. A gente deu remédio, o Buscopan, e até deu uma aliviada.
Passada algumas horas, durante a manhã, ela ficou quietinha. Era engraçado que ela só passava mal durante a noite. Só que de manhã, as seis horas, ela estava com dor. Ela não dormiu. Ela estava com os olhos fundos e dava de ver que a doença estava se agravando. Aí a mãe levou de bicicleta no hospital, na cadeirinha. Deu uma dó! Ficou de manhã até as duas e meia da tarde. A mulher, médica, foi ali e falou: ela vai ser transferida para Florianópolis.
Chegamos no Hospital Infantil e deixaram ela num canto, na observação. Colocaram um soro na veia e deram um remédio pra aliviar. Era pra fazer uma ultrassom, mas fizeram um raio-x, demorou pra dizer o que que eram, não fizeram exame nenhum nela, não coletaram sequer urina. Deram mais um remédio pra dor e sumiram. Depois de horas veio a médica e disse que ela não tinha nada grave. “Por mim já está liberada, só tem que esperar a pediatra”, disse a médica. Eu acho errado porque não deixaram ela internada!
A pediatra veio, disse que ela estava bem, apertou a barriga dela, fiquei até aliviada, porque antes estava super dura. Receitaram dipirona em gota e paracetamol para dor. Qualquer médico vai ver se uma criança está bem ou mal. Dava de ver nos olhos dela.
“Ganhei alta”, me disse a minha esposa. Mas alta amor? Eu tinha preparado até uma sacola de roupa. Minha filha precisava de ajuda médica. Achei até estranho! Quem estava entre 4 paredes vendo o que ela estava sofrendo era eu e minha esposa! Chegando lá, a mãe estava esperando em frente ao hospital, com a Bianca quietinha no colo. Entrou no carro, a gente voltando, ela começou a gritar de dor. Perguntei o que que eles tinham feito por ela, porque não dava pra acreditar.
Aí na quinta-feira a noite ela piorou. Não conseguia dormir, ela vinha, abraçava a gente e ficava calminha, mas já se torcia toda. Chegou de manhã ela começou a vomitar. Um líquido preto, uma gosma. Começou a aparecer uns hematomas e a gente ficou preocupado. Eu saí de casa para trabalhar e fui comprar umas frutinhas pra ela. Pra ver se vai melhorando. Cheguei com as frutinhas em casa ela estava muito mal. Na hora que eu a peguei no colo ela estava com os olhos virados, cara. Tentei fazer respiração boca-a-boca, eu batia no coração, saí em apuro, chamei nosso vizinho, embarcamos no carro e levamos ela pro hospital. Mas eu já senti dentro do carro nos meus braços que ela tinha morrido. No hospital fizeram de tudo, mas não conseguiram. Aí depois da morte deu o laudo. Eu não sei como é que eles não descobriram.
A causa da morte dela foi necrose isquêmica de intestino delgado, volvo de intestino delgado, cisto congênito mesentérico. Depois que morreu, abriram ela toda. Mas se tivessem encaminhado pelo menos para uma observação, deixassem internada para ver a reação dela, veriam o sofrimento dela a noite, de madrugada. Agora ela está com Jesus. Antes de morrer, a única coisa que ela me pediu foi um copinho de água.
Qualquer médico com uma criança veria que ela precisava de ajuda. Mesmo se a mãe pedisse eu não deixaria levar para casa. Um médico de verdade, pra mim, diria isso. Porque eles juraram proteger as crianças, né? E olha que tanto eu elogiei esse hospital.”
O Hospital Infantil enviará uma nota com supostos esclarecimentos acerca do atendimento e posterior morte da menina Bianca. A família e a sociedade batistense clama por justiça.