Nas redes sociais, se apresentava como alguém empático, defensor das minorias, engajado com pautas progressistas. Em grupos e perfis pessoais, compartilhava frases de apoio à comunidade LGBTQIA+, demonstrava entusiasmo com campanhas políticas da esquerda e fazia questão de associar sua imagem a causas sociais.
Mas por trás dessa aparência pública, a polícia descobriu um comportamento monstruoso.
O auxiliar de sala Allec Sander de Oliveira Ribeiro, de 34 anos, foi preso preventivamente acusado de produzir e armazenar pornografia infantil dentro de uma creche pública em Florianópolis. Parte dos arquivos encontrados teria sido produzida na sala onde ele trabalhava com crianças de 4 a 6 anos. Pelo menos seis vítimas já foram identificadas.

Perfil ativista e narrativas de “respeito”
Publicações feitas por Allec entre 2018 e 2019 mostram seu posicionamento político claramente alinhado à esquerda. Em uma das imagens resgatadas pelo Jornal Razão, ele aparece com o filtro “Ele Não”, campanha criada contra o então candidato Jair Bolsonaro.
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Em outras postagens, defendeu os candidatos Fernando Haddad e Lula, usando hashtags como #HaddadÉLula
e #Presidente13
. Em uma publicação datada de 7 de outubro de 2018, escreveu:
“Se ele for eleito, você vai ter culpa em cada gota de sangue derramada depois.”
Em 2019, publicou uma foto ao lado de crianças dentro da escola, com a legenda:
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“Realmente amo meu trabalho.”
Para as autoridades e familiares das vítimas, o contraste entre o discurso público e os crimes investigados escancara o uso de pautas sensíveis como escudo moral. Uma das mães declarou:
“Ele se vendia como uma pessoa carinhosa, preocupada com os mais vulneráveis. Mas fazia exatamente o oposto com as crianças dentro da sala de aula.”

O “personagem acolhedor” que escondia um predador
Segundo a Polícia Civil, o investigado aproveitava os momentos de menor supervisão — especialmente durante o horário do sono das crianças — para cometer os abusos.
Uma das mães relatou que o filho, uma criança autista de 5 anos, passou meses mudando de comportamento até que finalmente revelou que o professor “brincava de caverna” com ele — gesto que depois foi interpretado como abuso sexual.
A investigação também apontou que o conteúdo armazenado por Allec incluía milhares de fotos e vídeos de crianças, alguns feitos com o uniforme da rede municipal, dentro do espaço escolar. O material foi classificado como de alta gravidade pela Polícia Científica.
Além disso, prints de mensagens obtidas por familiares apontam que o próprio professor já havia tentado justificar comportamentos da criança como “mania de se tocar”, numa suposta tentativa de antecipar qualquer denúncia.

Imagem digital cuidadosamente construída
Não era só no campo político que Allec projetava sua imagem. Nas redes, publicava fanarts de personagens infantis, tirinhas sobre adoção simbólica e artes exaltando pessoas trans.
Uma das postagens mostrava o personagem Sora, do jogo Kingdom Hearts, com uma bandeira trans e a frase:
“Pessoas trans são incríveis e sempre válidas.”
Em outra, dizia:
“Não sou o padrasto, sou o pai que assumiu.”
A imagem era acompanhada de um desenho com monstros e crianças em um contexto afetivo e simbólico. Para os investigadores, esse tipo de conteúdo ajudava a sustentar um personagem sensível e confiável, que escondia uma realidade completamente oposta.

Prisão e investigação
Allec segue preso preventivamente. A Polícia Civil ainda trabalha na análise de HDs e dispositivos eletrônicos apreendidos, com expectativa de que o número de arquivos ultrapasse 10 mil. Ele deve responder por crimes de pornografia infantil e estupro de vulnerável.
A Prefeitura de Florianópolis informou que o servidor foi afastado imediatamente após a primeira denúncia, no início de junho. Um processo administrativo foi aberto e segue em andamento.
Enquanto isso, mães e pais ainda tentam lidar com o trauma. Uma delas declarou:
“A parte mais difícil é que ele era próximo de todo mundo. Usava as palavras certas, os discursos certos, e ninguém desconfiava. Só que agora a máscara caiu.”
