"Não me arrependo", disse autor da chacina em Blumenau para a polícia

Bandido escolheu crianças porque "eram alvos mais fáceis, quase não correm". Ele também revelou que não se arrepende do que fez

"Não me arrependo", disse autor da chacina em Blumenau para a polícia

Reprodução / Redes sociais

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Na manhã do dia 5 de abril, uma tragédia abalou a cidade de Blumenau, Santa Catarina, quando um homem de 25 anos invadiu a creche Cantinho Bom Pastor e assassinou quatro crianças, deixando outras cinco feridas. Após 15 dias de investigação, a Polícia Civil concluiu o inquérito sobre o caso e compartilhou os detalhes em uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 17 de abril.

Segundo a polícia, o criminoso foi indiciado por quatro homicídios com qualificadoras e cinco tentativas de homicídio. As qualificadoras são motivo torpe, uso de meio cruel, impossibilidade de defesa das vítimas e a idade das vítimas, menores de 14 anos.

O delegado Ronnie Esteves, responsável pela Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Blumenau, apresentou os depoimentos colhidos durante a investigação. A mãe do criminoso foi uma das testemunhas ouvidas. Ela relatou que o filho tinha uma infância normal e que, ao crescer, desenvolveu uma relação próxima com seu padrasto. No entanto, a situação mudou quando o jovem começou a usar drogas, tornando-se agressivo e paranóico.

O delegado relatou que o autor contou detalhes de como praticou o crime, “disse que não se arrependia e que faria de novo”. Ronnie também questionou por que escolheu crianças como alvo. “Ele disse que as crianças eram alvos mais fáceis, correm devagar e teria condições de alcança-las [...]. É uma pessoa que de fato não tem nenhuma condição de viver em sociedade”, completou o delegado.

A investigação descobriu que ele planejava atacar creches perto da casa dele, mas mudou de ideia porque os "muros das unidades eram altos". 

Outro depoimento importante foi o de um amigo do criminoso, que afirmou que o assassino tinha um fascínio por um policial militar que conheceu em uma academia e também era lutador de jiu jitsu. O próprio criminoso chegou a dizer que esse policial ordenou o crime, mas essa alegação foi posteriormente desmentida. A participação do policial militar foi descartada.

A Polícia Civil reconstruiu o dia do crime, desde a saída do criminoso de casa até sua rendição no Batalhão da Polícia Militar. Inicialmente, ele pretendia atacar outras escolas, mas desistiu devido ao tamanho do muro. Após frequentar a academia por 21 minutos e pagar a mensalidade, o criminoso seguiu para a creche Cantinho Bom Pastor. Ele usou um machado tático de 42 centímetros e um canivete com lâmina de 11 centímetros para cometer o crime.

A polícia também abordou a questão das fake news durante a coletiva, pedindo à população que não compartilhasse informações não confirmadas por órgãos oficiais e profissionais de jornalismo. Essas notícias falsas atrapalham as investigações e causam medo na população.

A Polícia Civil informou que o laudo toxicológico do homem apontou as presenças de cocaína e cocaetileno, substância formada no fígado após a metabolização de álcool e cocaína, além de benzoilecgonina, principal metabólito da cocaína, formado pelo fígado e excretado na urina.

“Ele era usuário de cocaína, e tinha cocaína no sangue dele, agora a gente não pode presumir se ele fez uso na hora ou no dia anterior, por conta de metabolização”, disse o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel.

Em resposta ao atentado, o governo federal anunciou um repasse de R$ 150 milhões para investimento em rondas escolares. As prefeituras de Indaial e Blumenau e o governador Jorginho Mello anunciaram a contratação de seguranças armados para as escolas municipais e estaduais. A Prefeitura de Blumenau anunciou outras quatro medidas que começaram a ser implementadas nesta segunda-feira, 17.

O caso chocou o Brasil e trouxe à tona discussões sobre segurança em escolas e a necessidade de investir em medidas  preventivas e em apoio psicológico a jovens em situação de vulnerabilidade.

Durante a coletiva, a Polícia Civil informou que o perfil psicológico do assassino será estudado pelo setor de inteligência, com o objetivo de entender melhor as motivações do crime e prevenir ocorrências similares no futuro. Além disso, as autoridades destacaram a importância da colaboração entre as forças de segurança, comunidade e escolas para garantir a proteção dos alunos e funcionários.

As vítimas fatais do atentado foram Bernardo Pabst da Cunha, de 4 anos, Bernardo Cunha Machado, de 5 anos, Larissa Maia Toldo, de 7 anos, e Enzo Marchesin Barbosa, de 4 anos. Entre os feridos, uma menina foi liberada logo após o crime e as outras quatro receberam alta no dia seguinte. Um dos feridos, Davi Ambrosio, precisou receber transfusão de sangue.

O autor do massacre possuía antecedentes criminais, incluindo porte de drogas, briga em casa noturna e dois casos de esfaqueamento, sendo um contra o padrasto e outro contra um cão. Ele foi preso em flagrante após se entregar no Batalhão da Polícia Militar.

Em depoimento, uma professora que estava na creche no momento do ataque relatou os momentos de horror vividos durante o crime e como trancou as crianças para evitar que fossem atacadas. As imagens da despedida das vítimas do atentado emocionaram o país e reforçaram a necessidade de ações efetivas para garantir a segurança nas escolas.

O desdobramento deste caso trágico levou à implementação de medidas de segurança adicionais nas escolas do estado e do país, com o objetivo de prevenir que outras tragédias como essa voltem a acontecer. A sociedade brasileira espera que essas medidas sejam eficazes na proteção das crianças e na prevenção de atos de violência nas instituições de ensino.