Professor mandou crianças lerem texto com sexo explícito e morte de bebês

Ele admitiu que decidiu passar um conteúdo com sexo explícito e cenas de violência, inclusive incitando a morte de bebês, para que fosse lido e estudado por alunos do 5° ano

Professor mandou crianças lerem texto com sexo explícito e morte de bebês

Divulgação

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O Jornal Razão conversou com exclusividade nesta terça-feira com o professor de artes que protagonizou um episódio extremamente revoltante numa escola de Florianópolis, em Santa Catarina. Ele admitiu que decidiu passar um conteúdo com sexo explícito e cenas de violência, inclusive incitando a morte de bebês, para que fosse lido e estudado por alunos do 5° ano. Pais tomaram ciência da situação e denunciaram para as autoridades através de denúncia à Secretaria de Educação e para o Ministério Público. Ele já foi afastado das funções e afirma que se tratou apenas de um "deslize". "Jamais transmitiria um conteúdo com a intenção de conscientemente prejudica-los", diz P.A, que pediu para não ser identificado e terá seu nome preservado em respeito à lei de abuso de autoridade. A denúncia encaminhada à Polícia Civil diz que o professor passou via data show o texto chamado "Teatro do Absurdo" e solicitou para crianças de 10 e 11 anos representarem o texto como "peça de arte". As crianças ficaram extremamente constrangidas e indagaram o teor do texto, porém o professor teria ignorado e dado sequência à aula. "Nossas crianças correm risco com um "professor" desse atuando em sala. Crime contra nossas crianças não pode ficar impune", diz um dos pais. Uma mãe conta que não soube o que responder para seu filho quando ele perguntou o significado das palavras. O texto diz que "todo mundo gosta" de "sexo na lancha". Noutro ponto, afirma que irão enfiar um "cabo de vassoura no c.." e "matar bebês antes das mães se darem conta", entre outros tópicos extremamente revoltantes que não serão citados aqui.

Em declaração enviada ao Jornal Razão, o professor afirma que o conteúdo no texto é arte e não é papel dos professores “vedá-los ou isolá-los de informações ou realidades visíveis”. Leia a íntegra do documento:

“Eu, professor substituto de Teatro, declaro que tenho conhecimento dos termos e da linguagem presente no texto “A Festa”, de Harold Pinter, autor do gênero de Teatro do Absurdo. Reconheço o trabalho imenso dos pais, das mães e responsáveis pelos estudantes de 5º ano, para a formação de pessoas e co-responsabilidades – ofício do qual, todos nós, na escola, e em especial, os professores, fazemos parte.

Manifesto que não percebi a presença de termos grosseiros, numa primeira conferência do texto, talvez por ingenuidade, e compreendo, profunda e cordialmente, a posição dos responsáveis de interpretar a exposição a eles como uma forma de inadequação ou inclinação ofensiva. Nesse sentido, sem saber da existência destes termos, eu não poderia avaliar o texto como impróprio para aquela determinada faixa etária. Reconheço, nessa questão: não precisei o cuidado necessário que o material poderia requerer, no trato com aquela faixa etária em questão. Minha experiência com esta faixa etária é breve, e em nossa formação acadêmica nem sempre damos o valor devido a estas questões.

Informo que expressões grosseiras não são predominantes neste gênero de teatro. Meu objetivo, no trabalho com este gênero teatral, está em tratar de desafios comuns da existência e das relações humanas, e principalmente da nossa dificuldade em lidar com as suas diversas formas de manifestação.

Comunico que uma obra teatral ou artística não pode se responsabilizar, sozinha, pelo uso e interpretação de termos aplicados por quem participa de sua leitura – tarefa da qual nós, professores, pais e formadores, fazemos parte e mediação para designar e indicá-los em sua especificação social: seja ela supostamente ofensiva ou razoável.

Compreendo, mais uma vez, a legítima e respeitável postura dos responsáveis em proteger sua prole da exposição a termos grosseiros, dadas as condições, circunstâncias e perigos aos quais estamos todos expostos diariamente, em um processo de formação cuidadosa, sob o risco de vivências extremamente difíceis e vulneráveis. Mas é preciso salientar que estes termos foram acessados a partir de uma obra de arte, e fazem parte de uma realidade concreta e existente. Nem de longe foram utilizados como recurso para um trabalho de formação - em sua capacidade de reprodução ética ou social.

Nesse caminho, reconheço a inevitável adaptação de alguns termos – que pode ser feita ou negligenciada, e peço perdão pela intervenção interpretada como negativa, na circunstância de exposição aos termos considerados grosseiros, em um contexto complexo de formação entre família, escola e comunidade. Saliento que nosso papel não é vedá-los ou isolá-los de

informações ou realidades visíveis – considerando que estes mesmos termos são reconhecidos e infelizmente utilizados pelas crianças, desde a mais tenra infância, em suas buscas e curiosidades espontâneas.

Nesse sentido, mesmo reconhecendo a inadequação formal e institucional de alguns conteúdos, dispostos em determinadas faixas etárias, comunico que não é a exposição aos termos grosseiros que os tornará mais agressivos ou violentos, em uma impregnação negativa para suas formações, e sim o reconhecimento de sua designação ofensiva validada como legítima e aceitável, nos contextos de formação aos quais estão expostos estes estudantes – desde a casa, até a escola. Nessas condições, comprometo-me a adaptar materiais com linguagens grosseiras, se isto tornará tutores ou responsáveis mais tranquilos, em seus processos de cuidado, respeito e amparo; e a dialogar com pais, mães e responsáveis que necessitarem de maiores precisões, ajustes e acordos, nesse processo conjunto de formação dos nossos estudantes”.