Reprodução / Inquérito MPF
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Palhoça - Em um dos maiores escândalos políticos recentes de Santa Catarina, o deputado estadual Camilo Martins (Podemos) se encontra no epicentro de uma grave investigação. Denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por corrupção, fraude em licitação, organização criminosa e lavagem de dinheiro, Martins enfrenta agora críticas não só da sociedade, mas também de sua própria esposa, Gabriela Martins. Uma interceptação de conversa entre o deputado e Gabriela revelou que até mesmo sua companheira condenaria as ações do marido.
A operação da Polícia Federal, deflagrada em setembro de 2022, desvendou um esquema de corrupção que teria operado entre 2014 e 2020. Além de Martins, o atual prefeito de Palhoça, Eduardo Freccia (PL), e outras sete pessoas foram denunciadas. A denúncia ocorreu nos últimos dias e tramita na 7ª Vara Federal de Florianópolis, descrevendo uma rede de conluio entre políticos e empresários, resultando em fraudes licitatórias e movimentações financeiras ilícitas.
De acordo com o MPF, empresas ligadas ao esquema receberam aproximadamente R$ 18 milhões da Prefeitura de Palhoça. Esses valores eram repassados a agentes públicos e ocultados através da aquisição de bens não declarados e pagamentos em espécie. O prefeito Eduardo Freccia, na época secretário de Infraestrutura, teria emitido atestados de capacidade técnica falsos para favorecer empresas específicas. Já Martins, então prefeito, é apontado como o mentor intelectual do esquema fraudulento.
As empresas administradas pelo empresário Maurício Savulski de Matos, supostamente o principal beneficiário do esquema, receberam montantes elevados da prefeitura, valores que foram ocultados mediante saques em espécie superiores a R$ 7 milhões e a aquisição de bens. Savulski contaria com o auxílio de sua irmã, Ana Karoline Savulski Rodrigues, e da funcionária Iara Rita Kraül para falsificação de orçamentos e propostas, simulando concorrências que nunca ocorreram de fato.
Em uma conversa interceptada, Gabriela Martins expressou sua desaprovação em relação às ações do marido, destacando a gravidade das acusações e a necessidade de uma resposta honesta. Ela enfatizou que as ações de Camilo estavam prejudicando não só sua carreira política, mas também a integridade de sua família. A conversa, incluída no relatório do MPF, mostra uma mulher preocupada e crítica, que se distanciou das atitudes ilegais atribuídas ao marido.
O esquema supostamente funcionava através da fraude em processos licitatórios, onde empresas eram utilizadas para simular concorrência e garantir vantagens indevidas para os envolvidos. A organização criminosa envolvia empresários, servidores públicos e outras figuras influentes que se associaram para manipular os resultados de licitações e desviar recursos públicos.
O esquema se baseava na simulação de concorrência em processos licitatórios. As empresas ETEC Construção e Terraplanagem ME, Sólida Serviços de Mão de Obra EIRELLI ME, Hang Serviços de Mão de Obra e ECCL Empresa de Mão de Obra na Construção Civil LTDA-EPP seriam utilizadas para criar orçamentos falsos e garantir que uma das empresas controladas pelos membros da organização criminosa vencesse a licitação. Os documentos de orçamentos eram elaborados por funcionários das empresas envolvidas, mas assinados como se fossem de outras empresas para simular uma concorrência legítima.
Além disso, diálogos entre os envolvidos foram interceptados, demonstrando a conivência e a coordenação entre os membros da organização criminosa. Essas conversas revelaram detalhes sobre a manipulação dos processos licitatórios e a distribuição dos recursos desviados.
Em nota, o deputado Camilo Martins afirmou que seus advogados ainda não tiveram acesso completo ao processo e que confia na justiça para esclarecer os fatos. Martins defendeu a lisura de seus atos durante sua gestão na prefeitura de Palhoça e destacou que todas as informações serão prestadas às autoridades competentes.
O prefeito Eduardo Freccia, por meio de seu advogado, ressaltou que a investigação se refere a um processo licitatório de 2017, quando ele ainda era secretário, e que não tem relação com seu mandato atual como prefeito. Freccia também manifestou confiança na justiça e na imparcialidade do Poder Judiciário.