“Teu filho pode morrer, assim como várias crianças”: mães apavoradas em SC

Grave crise na saúde catarinense expõe famílias a verem seus filhos à beira da morte, sem ter para quem recorrer

“Teu filho pode morrer, assim como várias crianças”: mães apavoradas em SC

Por Ludmila Lopes e Lorran Barentin / JR

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Santa Catarina se encontra mergulhada numa crise aguda no sistema de saúde pública. Com hospitais à beira do colapso e pacientes esperando por cuidados críticos por anos, famílias estão aterrorizadas com o futuro de seus entes queridos.

No Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, uma mãe assiste o filho lutar contra a bronquiolite há 30 dias. Após um mês de internação e um pesadelo de entubação e reentubação, o bebê necessita de uma cirurgia. No entanto, a falta de leitos de UTI e recursos criou um cenário de desespero.

"No estado que eu me encontro, já nem tenho mais lágrimas para chorar. O estado nervoso é só tremer, tremer e tremer", lamenta a mãe.

O filho dela foi transferido para um quarto devido à falta de leitos de UTI, intensificando o medo de que ele não receba os cuidados necessários. Desesperada e impotente, a mãe recorreu às redes sociais em busca de ajuda.

No dia em que seu filho completou um mês de internação, foi constatado que não há leitos de UTI pediátricos disponíveis na rede pública de Santa Catarina. Com 120 leitos ocupados, mais pessoas continuam a aguardar vagas, enquanto o estado abriga mais de 578.425 crianças - isto equivale a 4.820 crianças para cada vaga de UTI pediátrica no estado.

Para mitigar a situação crítica, o governo do estado busca vagas na rede privada. Mas, a crise de saúde se estende além da capital.

Em Tijucas, Silvana de Fátima Rodrigues, 52 anos, diagnosticada com câncer de mama em estágio 4 e metástase óssea, aguarda uma cirurgia há mais de três meses. A fila de espera pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tem um prazo estimado de 2.067 anos.

Embora o governador Jorginho Mello tenha garantido que eliminará a fila de espera até agosto deste ano, especialistas veem tal promessa com ceticismo. A falta de investimentos estatais em hospitais de grande porte, como o de Tijucas, é uma preocupação evidente.

Apesar da gravidade da situação, os esforços para prevenção e melhoria no sistema público de saúde não cessam. No mês de abril, Sandro Ricardo Souza e o Coordenador do CSP, Douglas Roberto Martins, encaminharam ofícios à Secretaria de Estado da Saúde, ao Hospital Infantil Joana de Gusmão e à Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis, solicitando informações sobre o cenário atual e medidas que estão sendo adotadas para evitar um novo colapso na capacidade de atendimento.

Eles também pediram ao Conselho Regional de Medicina (CRM) uma atualização das informações prestadas no ano passado, para avaliar o atual cenário de demanda e possíveis mudanças na capacidade de atenção da saúde pública catarinense. A resposta do CRM ainda é aguardada.

A 10ª Promotoria de Justiça da Comarca da Capital mantém ativo um inquérito civil para diagnosticar a situação atual do sistema público de saúde responsável pelo atendimento de crianças e adolescentes, identificar carências e necessidades e adequar estruturalmente os equipamentos públicos para atendimento. O objetivo é acompanhar as ações do Estado em médio e longo prazo na implementação de serviços de atendimento em saúde na área da infância e juventude.

A mãe do bebê internado há mais de 30 dias no Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, vivencia diariamente o pânico e o desespero que tantas outras famílias catarinenses estão passando.

"O meu filho, se continuasse na situação que estava, não passava de final de semana. Estava muito feio. É uma situação desumana. Muitos pais e mães estão aqui, desesperados por uma vaga. Eu mesmo me vi desesperada nestes dias que eu tenho passado, vendo meu filho morrer numa cama”, desabafou ela, expressando a angústia e desespero que muitas mães estão sentindo no estado. “Tem, tem muitas mães no quarto desesperadas com os filhos em situações muito críticas. É uma situação assim dentro do hospital que é, ai, é desumano, sabe? Tem mãe assim que, que descorta o coração da gente, não tem nem palavras para falar."

O filho desta mãe luta contra a bronquiolite e precisa de uma cirurgia. Com a falta de leitos de UTI e recursos adequados, o quadro se torna cada vez mais crítico, resultando em um cenário de desespero e desamparo para as famílias afetadas. Após o desabafo nas redes sociais, ela conseguiu uma vaga de UTI. 

A situação no Hospital Infantil Joana de Gusmão é um reflexo da crise de saúde pública mais ampla que afeta Santa Catarina. Com hospitais à beira do colapso e filas de espera que se estendem por anos, as famílias estão aterrorizadas com o futuro de seus entes queridos. A resposta para essa crise não pode vir em breve o suficiente, pois cada dia que passa é um dia a mais de sofrimento e incerteza para essas famílias.