“Estou tranquilo”, diz amigo de infância preso por duplo feminicídio em Navegantes

Fernando Kolhrawsch é pescador e trabalha 'embarcado'. Apontado como autor de duplo feminicídio brutal, ele é amigo de infância de Raquel Hostins e estava há 5 anos sem ver a vítima.

“Estou tranquilo”, diz amigo de infância preso por duplo feminicídio em Navegantes

Reprodução / Redes sociais

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Na noite do último sábado (22/06/24), uma tragédia abalou a comunidade do bairro Machados, em Navegantes, Santa Catarina. Raquel Hostins e Carin Daiana Salomão foram encontradas mortas em uma casa, com sinais de violência extrema. O caso, que tomou proporções alarmantes e chocou a população catarinense, levou à prisão de um suspeito na madrugada seguinte. 

Os corpos foram descobertos após a polícia ser chamada ao local, onde encontraram a residência aberta e sinais claros de luta no interior. Segundo relatos da polícia, Raquel foi encontrada no quarto e Carin nos fundos da residência, ambas com ferimentos letais no pescoço causados por faca. O cenário sugeria uma violenta luta corporal, com objetos pessoais e resquícios de bebidas alcoólicas espalhados pelo ambiente.

O Delegado Regional de Itajaí, Márcio Colatto, e o Delegado Gustavo Reis, encarregado do caso, atuaram prontamente nas investigações. Após diligências iniciais e coleta de evidências, a justiça expediu um mandado de prisão contra o acusado, que foi capturado ainda na madrugada de domingo. 

Fernando Kolhrawsch, popularmente conhecido como 'Fefeu', se apresenta em suas redes sociais como cristão e pescador. A frase "e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" ilustra seu perfil no Instagram. 


Após ser preso, o suspeito, que já tinha passagens policiais por violência doméstica e crimes patrimoniais, foi levado ao Presídio Regional de Itajaí, cidade vizinha a Navegantes. As investigações complementares serão feitas pela Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Itajaí.

Em entrevista exclusiva ao Jornal Razão, a advogada do suspeito, a criminalista Vanessa Alves, forneceu detalhes sobre a versão do seu cliente. Segundo a advogada, o acusado nega veementemente qualquer envolvimento nos assassinatos. 

A advogada começa esclarecendo que o colega de uma das vítimas, considerado uma testemunha-chave, não tem muito a contribuir além do encontro inicial na conveniência. Segundo ela, "o testemunho dele é exatamente aquela fase do encontro, onde se encontram na conveniência. Ele confirmou, na verdade, o que serviu para identificar meu cliente. Encontraram-se na conveniência e ele fala que deu a carona para eles, que levou até a casa. Somente isso. Então, serviu mais para fechar o quebra-cabeça."

Um arranhão no peito de Fernando teria sido considerado como sendo um indício de sua culpa, sugerindo uma reação de Raquel e Carin no momento dos assassinatos. A advogada, entretanto, detalha uma briga em que o suspeito se envolveu, durante a qual ele supostamente sofreu um arranhão na região do abdômen, próximo ao tórax. 


"Ele conta da briga, inclusive identifica as pessoas da briga. Então, hoje à tarde vou ver realmente se essa briga aconteceu. Vou conversar com as pessoas que ele menciona, que são conhecidos aqui da cidade, para ver se realmente houve essa briga, onde ele se feriu, que é um machucado na região do abdômen, perto do tórax, que é um arranhão, segundo ele." A advogada ainda menciona que um dos envolvidos na briga saiu bastante machucado, e ela pretende confirmar essas informações com as pessoas mencionadas pelo acusado.

A versão de Fernando inclui uma série de eventos detalhados. Segundo ele, após encontrar Raquel na conveniência, beberam e foram para a casa dela. "Se encontraram na conveniência, beberam, depois foram para casa dela, beberam até umas 11 e pouco, voltaram, que é aquela imagem que mostra eles passando na farmácia, na câmera ali de pé. Foram beber mais um pouco em outro bar, no bar da Solange."

Após deixarem o bar, foram para a casa do suspeito. "Dali depois vieram para a casa dele. Foi a situação que negaram o carro, não foi dado o carro pela mãe do Fernando porque ela ficou com receio do estado de embriaguez deles. Ela chamou o Uber e foi embora de Uber para casa dela, e ele saiu a pé porque ficou chateado com a mãe dele."

A advogada também descreve que, depois de algum tempo, o suspeito se encontrou novamente com Raquel e tiveram uma relação consensual antes de ele sair novamente. "Depois se encontraram de novo, ele foi lá, tiveram uma relação consensual e foi embora. Então para a polícia ele disse a mesma versão que ele me contou. Ele nega os crimes, disse que não é bem assim. Ele confirma com certeza mesmo, sabe? Eu sou suspeita para falar, pois estou na defesa dele, mas quando as pessoas geralmente estão nessas situações, já temos uma certa visão por fora, assim aparentemente na palavra dele, da forma que ele me contou e confirmou, acredito mesmo que não foi ele", diz. 

A advogada reforça que a versão do suspeito segue um cronograma consistente dos eventos e falta apenas confirmar alguns detalhes, como a briga. "A história dele parte em regra com o cronograma da história. Então ele saiu, ficou um pouco tempo, saiu e não teve contato nem com a outra vítima, com a Carin, em nenhum momento. E a princípio é isso, ele nega categoricamente que não foi ele."

A advogada conclui afirmando que, segundo o depoimento do seu cliente, ele está tranquilo e firme em sua versão dos fatos, negando qualquer envolvimento nos assassinatos.

Conforme já adiantado anteriormente pelo Jornal Razão, testemunhas chave foram fundamentais para o avanço rápido do caso. Um amigo próximo de Raquel forneceu um relato detalhado de seus últimos encontros com a vítima, incluindo uma noite que terminou em uma conveniência local. É justamente este relato que a defesa buscará desmentir - ou comprovar. 

Para uma melhor compreensão, o Jornal Razão organizou as informações do testemunho de forma cronológica e detalhada:

Quinta-feira, 20/06:

19h00: O Amigo 01 relata que saiu com Raquel Jaqueline Hostins para a Conveca, uma conveniência localizada no centro de Navegantes.

01h00 (já na madrugada de 21/06): Após a Conveca, ambos foram ao posto Catarina.

06h30: Posteriormente, seguiram para outra conveniência chamada Zanata (The beats) no bairro São Domingos. Neste local, Raquel encontrou um amigo de infância, com quem tinha estudado. Este amigo estava acompanhado de outros dois homens, que, no entanto, não se aproximaram deles.

09h00: Raquel pediu ao Amigo 01 que desse uma carona para ela e seu amigo de infância, pois pretendiam 'ficar' e passar mais tempo juntos após deixar o local. O Amigo 01 levou Raquel e seu amigo para a residência de Raquel e depois voltou para sua casa.


Sexta-feira, 21/06, por volta de 15h00: Ele encontrou novamente com Raquel e o mesmo amigo na conveniência da Solange. Durante o encontro, Raquel solicitou que o Amigo 01 os levasse até a casa deste homem, pois ele queria apresentar sua mãe a Raquel. Ele deu carona ao casal, deixando-os na casa do amigo, cujo endereço exato não se recorda.

Sábado, 22/06: 07h00: Na manhã seguinte, o Amigo 01 passou pela residência de Raquel e notou que o portão estava aberto, o que considerou estranho, pois normalmente está fechado. Esta observação foi atípica e levantou suspeitas sobre a situação na casa de Raquel. Ele ainda disse que apenas passou em frente a residência e foi para sua casa porque não quis atrapalhar, visto que Raquel e Carin teriam uma relação e achou que, chegando ao local, poderia 'atrapalhar'.

Outra testemunha observou Raquel acompanhada por um homem na véspera dos assassinatos, detalhando seu estado de embriaguez e comportamento instável.

Ele forneceu um relato detalhado dos eventos que observou em 21/06/2024, entre 11h e 12h, envolvendo Raquel Hostins. Ele descreveu Raquel como visivelmente alcoolizada, uma condição evidente quando ela passou em frente à sua casa, acompanhada de um homem. Este homem foi descrito pelo Amigo 02 como vestindo camisa branca, calça jeans, de pele moreno claro, cabelo curto e calçando tênis. Durante este período, Amigo 02 notou que Raquel quase caiu devido ao seu estado de embriaguez, o que aumentou sua preocupação.

Além disso, Amigo 02 observou que o casal se dirigiu inicialmente para uma farmácia local e, em seguida, retornou pelo mesmo caminho. Neste momento, ele notou que Raquel estava usando uma saia jeans. Importante destacar que ele também contribuiu com imagens de câmeras de segurança que capturaram Raquel e seu acompanhante. 

As imagens capturadas por câmeras de segurança, mostrando Raquel Hostins acompanhada de um homem, foram apresentadas ao 'Amigo 01'. Ao visualizar as imagens, ele reconheceu o homem que estava com Raquel como sendo a mesma pessoa que ele havia deixado na casa dela após um encontro na conveniência.

Carin era funcionária pública da Prefeitura de Navegantes e Doutora em educação

A guarnição da Rádio Patrulha do 25° BPM foi essencial para o atendimento inicial e coleta de informações. Imagens de câmeras de segurança das proximidades foram rapidamente analisadas, adicionando mais peças ao quebra-cabeça deste horrível crime. A polícia também destacou a falta da chave do veículo de Carin, um JEEP Renegade, que foi encontrado no local e guinchado para análises adicionais.

Este caso, embora rapidamente encaminhado com a prisão de um suspeito, deixa uma marca dolorosa na comunidade de Navegantes. A violência contra mulheres continua sendo uma chaga na sociedade, necessitando de atenção contínua e esforços conjuntos para sua erradicação. A investigação segue em andamento, e a comunidade aguarda ansiosamente por justiça para Raquel e Carin, cujas vidas foram brutalmente interrompidas.

Nota da Advogada 

A defensora Vanessa Alves, manifesta sua solidariedade com os fatos recentes e reitera o seu repúdio a qualquer ato criminoso.

A violência e a criminalidade são inaceitáveis em nossa sociedade, e é dever de todos nós lutar por um ambiente mais seguro e justo para todos.

Como advogada, tenho plena consciência da gravidade das situações envolvidas e das consequências que crimes acarretam para as vítimas, suas famílias e a comunidade como um todo.

Minha profissão exige um compromisso inabalável com a verdade, a justiça e a legalidade. É por isso que meu papel no sistema judiciário é fundamental, seja para defender aqueles que são acusados injustamente ou para assegurar que os culpados sejam devidamente responsabilizados por seus atos.

Acreditar na justiça é acreditar que cada indivíduo tem direito a um julgamento justo e imparcial. Meu dever é garantir que os direitos constitucionais sejam respeitados, que a verdade prevaleça e que a justiça seja servida, independentemente de qualquer circunstância.

Reafirmo meu compromisso com a ética profissional e com a busca incessante pela verdade e pela justiça, com a firme convicção de que, ao cumprir meu papel, estou contribuindo para uma sociedade mais justa e equitativa.