A Polícia Civil de Santa Catarina prendeu nesta terça-feira (8) mais um dos envolvidos na chacina que aterrorizou São João Batista em maio deste ano. Trata-se de Hanatan dos Santos Porto, de 30 anos, que estava foragido do Presídio Regional de Chapecó e foi localizado no bairro São Cristóvão, em Barra Velha, no Litoral Norte catarinense. Ele é o terceiro suspeito preso por participação no quádruplo homicídio registrado no bairro Timbézinho.
A captura foi realizada por agentes do Setor de Investigação Criminal (SIC) de Balneário Piçarras, com apoio da Polícia Civil de São João Batista. A ação foi resultado da troca de informações entre as delegacias. O suspeito não resistiu à abordagem e foi levado sob escolta para o sistema penitenciário, onde permanece à disposição da Justiça.
Segundo documentos obtidos com exclusividade pelo Jornal Razão, Hanatan tinha um mandado de recaptura emitido pela Vara Regional de Execuções Penais da Comarca de Chapecó. A ordem judicial é válida até 2030 e consta como pendente de cumprimento no Banco Nacional de Medidas Penais. Ele também era procurado pela Segunda Vara da Comarca de São João Batista, que apura a participação dele no caso do Corsa carbonizado com quatro corpos no porta-malas.
Relembre o caso
O crime aconteceu no dia 17 de maio de 2025. Moradores da Estrada Municipal, no bairro Timbézinho, relataram ter ouvido gritos e uma explosão. Minutos depois, o Corpo de Bombeiros foi acionado e encontrou um veículo GM Corsa em chamas. Dentro do carro estavam quatro corpos completamente carbonizados.
As vítimas foram identificadas posteriormente pela Polícia Científica como:
- Gabriel de Azevedo Pereira, 20 anos, de Tijucas (SC), com passagem por tráfico;
- Gabriel Salomão de Sousa, 19 anos, de Porto Alegre (RS), com infração de menor potencial ofensivo;
- Guilherme Vinicius Bittencourt, 18 anos, de Gravataí (RS), com registro por crime patrimonial;
- Tieisson Ramon de Oliveira, 36 anos, de Estância Velha (RS), sem antecedentes criminais.
Todos estavam desaparecidos havia dias, o que intensificou as investigações.
Sessão de tortura e execução
Conforme apuração do Jornal Razão junto às autoridades, os quatro foram levados até um ponto de tráfico de drogas no fim da mesma estrada onde o carro foi encontrado. Ali, teriam sido espancados e esfaqueados até a morte.
Os criminosos tentaram cobrir o sangue com folhas e galhos antes de colocarem os corpos no carro. Em seguida, conduziram o veículo até um trecho de mata e atearam fogo usando gasolina — um galão foi deixado na cena.
Imagens de câmeras de monitoramento ajudaram a identificar outro veículo envolvido no crime. Ele foi usado para dar apoio e resgatar os autores após o incêndio. Um dos primeiros presos, conforme a investigação, era o dono desse carro.
Prisões anteriores
A primeira ofensiva policial prendeu dois suspeitos poucos dias após o crime. Claudiomiro Rodrigues Teodoro, 41 anos, conhecido como “Alemão”, e Pablo Manso Bandeira, 22, apelidado de “Pablinho”, foram detidos em São João Batista durante uma ação conjunta da Polícia Civil e da Polícia Militar.
As prisões ocorreram sem troca de tiros, após cerco às casas dos suspeitos. Segundo a Polícia Civil, “Alemão” seria o mandante da chacina, enquanto “Pablinho” teria ligação direta com a logística do crime. Ambos são naturais do Rio Grande do Sul.
Outros dois suspeitos seguem foragidos.
Motivações e contexto social
A principal linha de investigação aponta que o crime está ligado à disputa entre facções criminosas pelo controle do tráfico de drogas na região do Vale do Rio Tijucas.
O bairro Timbézinho, onde ocorreram os assassinatos, é uma das áreas com maior vulnerabilidade social de São João Batista, com histórico recente de execuções, tráfico e violência armada.
De acordo com o delegado Cristiano Sousa, que comanda as investigações, a motivação do crime foi um acerto de contas. A Polícia Científica ainda trabalha para concluir os laudos que irão confirmar os detalhes técnicos da execução e da carbonização dos corpos.
Escalada da violência na cidade
Até o início de 2025, São João Batista era considerada uma das cidades mais pacatas da Grande Florianópolis. Com cerca de 32 mil habitantes, não havia registro de homicídios em 2024.
Mas tudo mudou nos primeiros cinco meses deste ano. A chacina do bairro Timbézinho elevou o número de assassinatos para seis, colocando o município no topo do ranking estadual de homicídios.
Outro caso grave ocorreu em fevereiro, quando um jovem de 23 anos matou o próprio pai a golpes de tesoura, após histórico de violência doméstica. Esses episódios violentos transformaram o cenário da cidade e alertaram as autoridades para o crescimento do crime organizado.
Prisão de Hanatan fecha cerco
A prisão de Hanatan dos Santos Porto é considerada estratégica para a elucidação completa do caso. Além de responder por homicídio qualificado, ele era foragido do sistema prisional e já tinha passagens anteriores por outros crimes.

Agora, com três suspeitos detidos e outros dois ainda foragidos, a Polícia Civil intensifica a busca para encerrar por completo o ciclo de impunidade em torno do crime.
As investigações seguem em sigilo, e novas diligências devem ocorrer nos próximos dias. A população pode ajudar com informações pelo Disque Denúncia 181 ou via WhatsApp da Polícia Civil: (48) 98844-0011. O sigilo é garantido.